quinta-feira, 23 de abril de 2009

Texto escrito por
Rogério de Almeida Freitas
Para a seção Opinião
da revista OQ, de Portugal


Ilusão de Grandeza

Não há maior inconveniente para a evolução pessoal do que a ilusão de grandeza. Muitos pensam ser o que não são, esquecidos de perceber o que, de fato, são. Nessa rota estéril, o estacionamento espiritual é a tônica dos que caminham pela vida terrena enganando os outros e a si mesmos.
Em mundos problemáticos ou subdesenvolvidos, as pessoas que neles vivem normalmente valem não pelo que são, mas sim pelo que representam. Em mundos evoluídos, cada um vale pelo que é, sendo, aos olhos alheios, a exata medida do que é.
Na Terra, o que somos não tem muita importância, desde que representemos bem o papel pretendido e o que concerne aos nossos objetivos, muitas vezes egocêntricos e equivocados. Verdadeiros sepulcros caiados — belos por fora, mas podres por dentro — desfilam as suas impurezas sendo, entretanto, aplaudidos e muitas vezes vistos como heróis disto ou daquilo.
Não existe — o que, segundo alguns, é lamentável —, entre os sentidos do corpo terrestre, um mecanismo qualquer que permita às pessoas perceberem a falsidade alheia, medindo as suas reais potencialidades e intenções. O que é tão fácil de ser percebido noutros mundos, na Terra parece pertencer ao campo da adivinhação, o que, muitas vezes, leva os juízes apressados das verdades alheias a cometerem verdadeiros assassínios de honras pessoais.
É forçoso analisar, no entanto, que talvez seja justamente o elo que nos une, enquanto sociedade, a incapacidade que tem o ser terreno de perceber a verdade que está no íntimo das pessoas. Ressalte-se, por bem da verdade, que muitos não percebem sequer as próprias.
Pensemos, só por alguns instantes, como seria a vida em comunidade se percebêssemos os pensamentos e sentimentos alheios! Seria uma tragédia.
A Providência Divina, seguramente percebendo a doença espiritual que marca toda a coletividade planetária terrestre, nos seus sábios desígnios, formulou, ao longo da evolução, um processo existencial no qual não fosse possível perceber tais coisas, o que nos permite viver em sociedade.
Daí a jactância de muitos em se acharem o que não são, ignorantes de que há outras realidades onde o ser é o que é. Esses, que treinam na Terra o hábito da falsidade vibratória, do engodo — seja próprio ou alheio —, quando perderem a máscara corporal densa e pesada do corpo terrestre, terão que se defrontar com a miséria íntima tão preciosamente escondida e que nos ambientes espirituais é inevitavelmente percebida por todos.
Os líderes do mundo (políticos, religiosos, comunitários e familiares), sejam de que matiz forem, não imaginam o que os espera, em nível de julgamento das consciências, quando deixam a vida terrena. Lá, para onde vão, não se pode enganar ninguém, nem a si próprios. A ilusão de grandeza — que lhes valeu pelos cargos e posições que tinham e não pelas pessoas que eram — transforma-se, inexoravelmente, em miséria existencial.
Todo o tempo é tempo de crescer e de se melhorar a si mesmo, pois somos o que somos e levamos a nossa própria herança espiritual — tendências, inclinações e habilidades — para onde formos. Não nos iludamos.