quinta-feira, 30 de abril de 2009

O Julgamento dos Vivos e dos Mortos

O que a espiritualidade pode deixar de mensagem de final de ano [2004]?

Resposta de Jan Val Ellam:

...não vem nada amoroso, só vem crítica à nossa conduta, talvez porque não haja mais nada de novo, porque tudo já foi dito há tanto tempo e vou dizer o quê?
Vamos fazer como Jesus disse: “Amemo-nos uns aos outros”. Já é tempo. Nós queremos que o romantismo faça parte, ainda, de um tempo que não há mais lugar para romantismo.
Os discursos, as crenças, as preces pouco importam. Sai Baba diz: “Hoje em dia valem muito mais as mãos que agem do que as bocas que oram”. De oração, o pessoal aí em cima está cheio. Não é mais tempo de oração. Nós precisamos desesperadamente –e quem fala sou eu sozinho –, cada um de nós deve criar um código de conduta diante da vida, seja ele qual for. Mas que alguém olhe para gente e diga: “Ah, o sabor dessa pessoa é esse”.”
Nós não temos personalidade formada. Pessoal, nós somos produtos das circunstâncias. Valem mais aqueles que criam tais circunstâncias. Os avatares, os mestres e os bandidos são os que criam as circunstâncias da Terra. Nós outros nos deixamos levar por elas.
Já é tempo de a gente acender a luz da própria alma, seja lá de que forma for. Se eu tivesse de dar uma mensagem a mim mesmo, eu daria esta e é isso que estou fazendo agora. Creio que se os amigos espirituais fossem falar, seria algo muito parecido com isso, mas não com elegância assim, porque não dá mais tempo, pessoal, não dá mais tempo para festinha, para isso, aquilo outro.
A “coisa” em cima já começou. É um sofrimento terrível, ainda bem que nós na carne não temos conhecimento do tal julgamento que já começou. É pai se separando de filha, é irmão se separando de irmã e não tem jeitinho brasileiro, não tem corrupção, não tem nada que dê jeito. E é dado a cada um conforme as suas próprias obras e méritos pessoais.
São 600 mil anos de História e nós nos enganamos e nos iludimos o tempo todo. Não dá mais tempo. Do jeito que o professor aplica as provas e testes durante o ano e, no final, afere a nota média que o aluno tirou, para ver se o aluno pode passar ou não, é o que está havendo no tal “julgamento geral dos vivos e dos mortos”. Todos nós, ao longo de 600 mil anos, já tivemos as oportunidades que deveríamos ter, já cursamos todas as matérias que a escola Terra nos pode proporcionar, pois já nascemos feios, bonitos, ricos, pobres, importantes ou anônimos, patrões ou empregados, sadios ou doentes. Já nascemos com todos os talentos que a vida podia nos dar. Nunca os multiplicamos convenientemente.
As nossas notas não são lá muito agradáveis, sob as perspectivas de critérios com os quais nós estamos sendo julgados. O único critério com que nós estamos sendo julgados é a nossa tendência ao bem ou não, porque se fossem postos os outros critérios, ninguém passava, ou seja, todo o mundo iria para o inferno. Seria esta a questão: o inferno já é aqui mesmo. Os mestres espirituais, esse colegiado de avatares, eles se reúnem e dizem: “Nós vamos fazer o quê? Se a gente colocar decência como critério nesse julgamento que está tendo aí, acabou, não fica ninguém”. Conduta moral também não fica. Claro que ficam um, dois, três, cinco, dez. Eu estou falando em linhas gerais. Então, eles desistiram. Eles só colocaram o que é produto do maior exemplo que alguém já deu aqui, que foi Jesus, no campo do amor.
Então, a única coisa que nos é aferida é se nós somos tendentes a amar ou não. Quem não é, está saindo daqui, está indo para outra escola, não tão agradável e bonita quanto a Terra, para lá tentar aprender o que aqui ainda não logrou aprender, que é se tornar alguém, sob a perspectiva cósmica, socialmente aceito. Para ser alguém socialmente aceito, nós temos de ter, minimamente, um comportamento bem-educado e esse comportamento bem-educado só é possível quando alguém é minimamente amoroso.
E é só isso que neste momento é exigido. É como se chegasse alguém com um termômetro, colocasse-o perto da aura da gente e aí tira a “medida”. “Ai meu Deus do céu!” É a nota mínima, a marca mínima desse termômetro que eles estão tirando, e é tragédia em cima de tragédia.
Desde o ano de 1989 esse processo começou. Quando alguém desencarna, já tem sido medida a sua “temperatura espiritual” e já está indo para outros cantos. Ou já preparando seu “atestado de matrícula” para continuar no mundo [terrestre] melhorado, pois dizem os amigos espirituais que, a partir da geração que nascer até o ano 2050, só encarnarão na Terra espíritos minimamente tendentes ao bem, ao amor.
E se nós somos a melhor parcela da humanidade, se somos tendentes minimamente ao amor – só pelo fato da gente estar aqui, já mostra que nós somos minimamente tendentes a isso –, imaginemos o resto, porque, entre nós aqui, não tem ninguém acima da média humana. Somos muito humanos, todos nós cheios de defeitos, apenas um pouquinho amorosos. Ainda assim, somos as peças que somos, pregamos as peças ao longo da vida. Imaginemos quem ainda está em pior situação que nós e são bilhões de almas desse jeito.
O que um pai pode fazer pelo filho, o filho pode fazer pelo pai, nada, a não ser dar o seu testemunho, o seu carinho, porque cada um tem de caminhar com suas pernas. O que um amigo pode fazer por outro, o que o cônjuge pode fazer pelo outro, o que uma filha pode fazer pela mãe, nada, a não ser dar o seu testemunho. O despertar é de dentro para fora, não é de fora para dentro.
“Vem aqui para essa religião, que agora você encontrou Jesus. Levante os braços, você encontrou Jesus”. “É um barato, é muito fácil...” Não! “Vem aqui e tome um passe toda semana, está tudo resolvido”. É uma “maravilha”. Nada disso tem importância. Comungar, tomar passe, beber água fluidificada, pagar dízimo, nada disso tem importância. Tem importância, sim, no coração de quem isso faça minimamente com amor. Porém, havendo minimamente tendência ao amor, tudo isso aqui tem importância, porque isso é multiplicado.
Se alguém vai para uma missa católica firmemente convicto de que está fazendo o melhor e vai receber [a hóstia] na hora da comunhão, não tenhamos dúvida que, onde Jesus estiver, faz com que ele receba as bênçãos. Depende da pureza de quem vai comungar, não depende do padre que vai dar a comunhão. Se alguém está voltado para Meca com o mínimo de decência na sua alma, achando que aquilo é a fórmula que ele tem de cultuar a Deus, então o Pai, Alá, abençoa aquele filho que está tentando amá-lo, homenageando-o dentro de seu padrão de conduta cultural da Terra. Mas se ele não tiver amor, não adianta nada disso, porque é a única coisa que a gente carrega daqui quando sai.
Quando a gente deixa esse corpo, a única coisa que marca a nossa alma é o nosso patrimônio amoroso, semeado por nós mesmos. Fora disso, ninguém leva nada, absolutamente nada. Pouco importa se você passou a vida ajoelhado para Meca. Pouco importa se você passou a vida comungando. Pouco importa se você passou a vida recebendo passe. Pouco importa se você passou a vida pagando o dízimo. Isso não tem importância. Terá importância tudo isso, se estiver consorciado ao coração amoroso, de alguém com boa intenção, o que é caminhar como o Pai.
Melhor passar o final de ano triste, pensando, do que saltitando: “Jesus, Jesus, Jesus!” E a coisa está ruça. Cada um reflita e que o espírito de Natal ajude que cada vez mais reflitamos, pois é muito cômodo crer, dar presente, cantarolar. Precisamos é trabalhar.
Desculpe, eu não posso ser instrumento para maiores ilusões. Se eu o for, prefiro estar me iludindo sozinho em casa. Amemo-nos uns aos outros sempre, sempre que puderem. Essa é a maior mensagem que se pode dar, que se pode ter. Reflitam bastante sobre a vida e criem um código de conduta. Mas não nos iludamos. Não dá mais tempo para bobagem. É época de maioridade espiritual. Boa sorte a todos nós!

Palestra de Jan Val Ellam (Rogério de Almeida Freitas).
Transcrição por Luiz Carlos Matão.
Grupo Atlan, Natal, 06.12.2004.